Somos nós.

Camila Elias
4 min readMay 31, 2022

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This is Us estreou em 2016. Eu só comecei a acompanhar a série no ano passado, depois de algumas pessoas queridas insistirem que eu PRECISAVA assistir. E todas completavam: prepare o coração.

Na semana passada, o mundo assistiu ao último episódio da série. Eu também. Ou seja, fiquei cerca de um ano maratonando as seis deliciosas temporadas de This is Us. Mas esta não é uma análise de This is Us. É a minha história com a série. Eu e os Pearson.

É a história daquele “casal 20”, dois belos seres humanos que se conhecem muito novos, se casam e, juntos, se tornam pessoas ainda melhores. Apaixonados e muito unidos, criam três filhos: dois meninos e uma menina.

O menino mais velho é o filho exemplar (e, por isso mesmo, o drama dos dois irmãos menores, porque é quase impossível chegar ao seu nível de perfeição). Antes dos 40 ele já tem uma empresa, uma carreira promissora, um casamento sólido e dois filhos. Mas sente nos ombros o peso de ter que cuidar das suas duas famílias: aquela em que ele nasceu e aquela que ele criou.

O outro menino é artista. Sensível, inteligente… mas ainda não achou seu lugar no mundo. Um quarentão tentando descobrir em onde canalizar todo o seu talento artístico enquanto se molda a um mundo capitalista demais, materialista demais, opressor demais.

A menina é o xodó da turma… cuidada e amada por todos, mas mesmo assim sente a pressão que é ser filha daquela mãe.

A mãe! É linda, charmosa, cheirosa, interessante, cheia de predicados. A verdadeira Diva. Uma mãe que a ama muito e, por isso mesmo, pega no seu pé! Tem medo do seu excesso de peso virar um problema maior de saúde, atrapalhar sua vida. Esse é um tema tão recorrente que a filha desenvolveu uma compulsão alimentar— joga na comida toda a culpa, o medo e a frustração de nunca atender aos padrões altos estabelecidos por todos que a tentam comparar com a mãe.

Ela é uma adolescente rebelde, porque precisa se opor àquela comparação esmagadora. Mais velha, entende que só precisava mesmo achar o seu jeito de ser, sem comparações… e passa a ser fã daquela mãe-maravilha.

E o pai… ah, o pai é O CARA. Pai herói. Carisma puro. Vive e morre pela sua família. E já que a vida tem um senso de humor doentio e meio sádico, infelizmente morre jovem. Precocemente. Sua morte nunca é completamente superada por quem fica.

Quê? Tô dando spoiler? Não, eu não estou falando da família Pearson. Como falei, esta não é uma análise de This is us. Estou falando da MINHA família.

E qual não foi a surpresa ao começar a assistir a This is Us e ver minha história ali, quase que perfeitamente descrita? Sim, tem algumas diferenças, mas ali tinha TANTOS sentimentos e vivências parecidas que eu devorei a série: eu e meus lencinhos. Porque chorei, viu? Afe. Chorei e ri. Às vezes ao mesmo tempo. Fiquei com o coração partido. Depois, com ele bem cheio e quentinho. Quase todos os episódios causavam isso: essa mistura de sentimentos, todos demasiadamente humanos.

E quando conversava com alguém sobre a série, percebia que todos tinham essa mesma sensação: estão falando da minha vida! É tão fácil se identificar com as histórias, as personagens, as vidas ali contidas.

This is Us não tem uma trama excepcional, intrincada. É simples e complicada, assim como a vida. Acompanha uma família desde o nascimento dos filhos até a chegada de netos e bisnetos. Conta a história da família Pearson com uma delicadeza ímpar.

Quem já terminou, viu o belíssimo penúltimo episódio, chamado “O trem”. Uma obra-prima da teledramaturgia, na minha humilde opinião não especializada. Nele, acompanhamos a bela e triste “última viagem” da mãe.

Assisto chorando litros e lembrando das últimas palavras do meu pai, antes de partir: o trem não pode parar. Mais uma coincidência entre nossas famílias.

É isso. Meu velho (que nem sequer chegou a ficar “velho”), já sabia de tudo isso lá em 15 de julho de 2000, quando se despediu de nós e deu o último suspiro. Sabia que a família era nosso alicerce, sabia que o trem da vida não podia parar, mesmo quando alguém que a gente ama muito chega àquele último vagão.

Agora estou aqui: vivendo o luto de perder algo lindo e amado, mas sabendo que essa dor só existe agora porque vivi, com eles, momentos maravilhosos. E me sinto privilegiada pela saudade que fica. Vou finalizar com a bela frase de William, porque eu não poderia resumir melhor:

“If something makes you sad when it ends, it must have been pretty wonderful when it was happening”

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Camila Elias

Textinhos e textões de uma garota do século passado — escritos no século XXI. https://www.instagram.com/mila_elias/